Obrigado por me ensinar, Vó
É, foi embora. Não aguentou. Morreu. Passou para uma melhor.
Tantas formas, variadas maneiras de dizer, e nenhuma ajuda no sofrimento. Todas são horríveis, mas necessárias para concretizar a verdade, cair a ficha como eles dizem. Mesmo que esta só irá cair com os dias, as semanas.
Eu não curto muito esse negócio de cerimônia de morte, sabe vó, você me entende, aquela vez na cozinha você falou que ia por obrigação. E eu ainda completei “até no nosso velório a gente é obrigado a ir né dona Nega?”, que saudade da sua risada naquele dia. Eu queria agradecer pelo aprendizado, pelo símbolo de fé que se tornou, pelo carinho nas mãos, o café das nove e trinta da manhã, e as histórias de sua juventude.
Enquanto pensava na senhora e fazia uma oração para que o caminho a seguir fosse menos dolorido para os seus filhos e netos, prestei atenção em uma senhora perto de você hoje no velório.
Era um pouco mais velha, baixinha, da sua altura Vó Nega, caladinha, um choro sofrido, um lenço de pano passado no olho toda hora para enxugar as lágrimas. Era sua irmã. Logo depois chegou outra. As duas, com o olhar simples, respiração cansada de quem leva nas costas anos de filhos e maridos, histórias e sentimentos que só vocês sabem. A senhora era desse jeitinho né, vó, caladinha que só.
A sua simplicidade é o que mais me fascina nisso tudo, o pouco estava ótimo, o abraço era suficiente e a ligação era um grande evento. Eu quero levar isso para o resto de minha vida, saber que no fim de tudo, ser simples e saber apreciar pequenas coisas, é o que realmente importa dessa vida. “A gente não precisa de muito”.
É tão clichê, mas ver a sua irmã, de chinelinho com uma florzinha na alça e uma camisa de nossa senhora aparecida me fez perceber desta forma, não adianta trabalhar e pensar numa vida de viagem e riquezas, você com seu vestidinho azul de bolinhas brancas era a pessoa mais feliz de Entre Rios de Minas, sem muito menos ter visitado Paris ou Milão, você era chique pra gente. A sua simplicidade era a coisa mais chique desse mundo Dona Nega.
E pode deixar, a gente vai cuidar uns dos outros, o Baixinho, o Paulinho, Marcinho, a Glória, o Grete, A Zélia, o Rogério e o João, estão muito bem cuidados aqui na Terra, você criou eles muito bem, você sabe disso. O João, este pode deixar que eu tomo mais cuidado, muito obrigado por esse anjo que você deixou com a gente, o seu “menino bobo” como chamava.