o fotógrafo alemão precursor do homoerotismo
Provalvemente se você for uma pessoa cronicamente online como eu passou por um post desse:
Esse assunto de seguir ou não ator pornô me lembrou do embate erotismo x pornografia, o que também me lembrou de um fotógrafo alemão que foi pioneiro na arte homoerótica na Europa no final do século XIX e início do século XX.
Wilhelm morou na Alemanha durante a juventude e sofria problemas pulmonares, ocasionando sua mudança para Taormina, na Sicília, Itália, a fim de um clima mais saudável para a sua tuberculose. Nesta pequena cidade, fascinado pelas paisagens e beleza dos jovens, a mona começa a fotografá-los inspirando-se na arte e mitologia da Grécia e Roma antigas.
Retratando os moços em posições e expressões clássicas, nus ou seminus, nas belas paisagens bucólicas ou em ruínas. Usavam acessórios como coroas de louro e roupas semelhantes da época, tudo para transparecer sua inspiração à estética clássica. Vale lembrar que para essas antiguidades o nu era considerado a forma pura de celebrar a beleza humana, assim como a juventude (por isso a gente vê muitos twinks nas fotografias).
Wilhelm aproveita da precária situação social dos jovens da cidade de Taormina e literalmente os paga para modelarem em suas fotos. Isso contribuiu muito para que o fotógrafo ganhasse uma notoriedade e respeito na comunidade local, logo mais, sendo reconhecido até pela Sociedade Fotográfica de Berlim. Suas fotografias foram publicadas em revistas de grande circulação e em exposições de arte.
Mas tudo isso ocorreu não só pelo frisson causado pelo nu masculino presente em suas fotografias, Wilhem von Gloeden era um excelente fotógrafo MESMO, tirar fotos ao ar livre para a época era algo muito difícil. Mas, não se pode deixar de notar que o teor homoerótico em suas fotografias é significativo, o que também gerava discussões para época. Alguns falavam que era pura ~pornografia~, para outros, era arte erótica.
Após a Itália entrar na Primeira Guerra Mundial, Wilhelm se vê obrigado a deixar Taormina por um tempo. Deixou seus trabalhos com o amante Pancrazio Bucini, também modelo do fotógrafo, a quem também herdou todo o trabalho do fotógrafo posteriormente.
Quando von Gloeden regressa de seu exílio, percebe que grande parte de seus modelos foram mortos em combate, a procura por sua arte diminui drasticamente pois a mudança social pós-guerra afasta o fascínio pela antiguidade clássica que outrora existia no imaginário popular.
Wilhelm fotografou mais de 7mil modelos, tendo mais ou menos 3 mil fotografias, porém grande maioria mal chegou aos dias atuais. Em parte pelo trabalho perdido durante a Primeira Guerra e também quando a polícia da ditadura Mussolini destruiu suas fotografias alegando ser pornografia.
Sim, os modelos eram menores de idade, o que ao nossos olhos de sociedade moderna (ainda bem) causa um estranhamento gigantesco. Em registros do próprio Wilhelm foi considerado a boa relação do fotógrafo com os familiares e modelos, vendo apenas como um trabalho para sustento. Além de que em um contexto histórico, naquela época idades menores infelizmente não tinham os mesmos direitos que hoje conhecemos, sabendo que o trabalho infantil era muito comum.
A intenção do fotógrafo, como também registrado, era de exaltar o corpo nu masculino e ser um trabalho extremamente artístico, porém alguns críticos consideram suas imagens um pouco problemáticas por representar os jovens em situações sexualizadas.
Contextualizando a obra do Wilhelm von Gloeden em um período de tempo diferente reconhecendo os padrões éticos e legais da época, podemos falar que hoje seu trabalho provoca discussões sobre a arte e o erotismo, celebração da estética masculina, e principalmente podemos refletir criticamente sobre peças artísticas de outros tempos.
Pioneiro em expressar a beleza, o erotismo e a estética clássica, é também considerado como um dos principais representantes na história da representação artística LGBTQQIA+. Abriu caminhos para o homoerotismo, sensualidade masculina e no desejo entre homens na arte.