Como me tornei uma chata?

Michael Maia
3 min readJul 26, 2021

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Este vai ser o texto mais pessoal que escrevi aqui, sem delongas, sem metáforas e qualquer semelhança com a vida de alguém. É sobre como eu me tornei uma pessoa insuportavelmente chata.

Domingo, 16:45h eu volto de uma caminhada no meio de uma estrada de terra e uma poeira de fazer tossir por dois dias. Em tempos de coronavírus eu fui todas as vezes tossir no banheiro, e algumas eu tossi abafado para ninguém ouvir. Mas eu me pergunto, o que uma pessoa de 28 anos faz em pleno domingo às 16h caminhando sozinha, não há nenhuma festa (anti-covid)? Nenhuma trend de tik tok pra participar? Eu ia pensando nisso enquanto intercalava a caminhada com alguns metros de corrida.

Desde há alguns anos que a minha vida tornou-se em fugir de certos sentimentos e pensamentos importunos no meio do dia. É como se fossem aquelas coceiras e pinicadas nas costas ou na perna, você sabe muito bem do que estou falando. Você está sentado e de repente “ui tá coçando aqui” e com uma simples raspada com a unha a situação está resolvida. A coceira acaba. É assim que o pensamento vem. De uma hora pra outra, em dias aleatórios, quartas de sol quente, domingos de manhãs frias.

Então, lá em 2018 eu recebi uma dica na terapia (santa Carmen): aproveite bastante o seu tempo, usufrua bastante das horas livres que você tem, e não se esqueça, o corpo parado tende a ficar parado. E foi assim que absorvi essas sutis palavras e me tornei uma pessoa que acorda às 7h de um domingo, que toda manhã marca qualquer exercício pois sabe que se ficar um dia sem suar tende a ficar o próximo dia deitado, e assim sucessivamente.

É claro que em 2020 (vocês sabem o motivo) tudo desmoronou, todas as rotinas possíveis foram desmontadas e lá em maio todo mundo estava tentando manter uma vida mais “simples”. Não existiam mais academias abertas, apenas os treinos em casa com sacos de arroz e feijão no meio da manhã. Então algumas coisas se perderam, os pensamentos voltaram com maior frequência e o álcool tornou-se companheiro aos sábados com a tv ligada em clipes de música antigos.

Certo que beber sozinho era algo que eu já fazia em 2019, afinal, eu estou no interior de Minas Gerais e tenho sérios problemas de iniciar amizades, talvez eu sempre fui chata??

Dezembro de 2020 chegou e entrei em uma mini bolha, voltei com os exercícios e os pensamentos foram se distanciando. Domingo a domingo eu vivi um sol quente dentro de mim (bom, eu não prometi que eu não usaria metáforas). Meses depois e chegou a semana em que o pensamento virou sentimento, e tudo que eu acreditava estava perdendo sentido.

Gosto de lembrar que não foi como 2018 (graças a deus??), a terrível semana após assalto em que eu mal saí do quarto. Desta vez algo foi me puxando para fora, continuei com os exercícios e fui diminuindo o álcool. Mas a pergunta que fiz lá na caminhada de domingo às quatro da tarde em meio a uma nuvem de poeira (graças a um motorista filho da puta que acelerou o carro quando me viu) começa a ser respondida aqui: a depressão me deixou com medo.

O medo de tudo desmoronar novamente, de sentir a puxada de tapete, o tombo após o pulo. É por isso que eu sinto que vou perder metade do meu domingo de folga se eu ficar dormindo até o meio dia, se eu tomar muitos drinks ou cerveja eu sei que nos próximos dias eu vou ficar lamentando uma ressaca e com medo da ansiedade atacar no meio da tarde.

Existe cura para deixar de ser uma chata?

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Michael Maia
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Written by Michael Maia

tomo café sem açúcar pra poder comer doce sem culpa.

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