é tudo acaso
Acredito na ocasionalidade da vida, tentando suprir a falta de fé na humanidade e nas religiões baseadas no pecado e no paraíso. É tão estranho viver no oito ou oitenta e não acreditar no céu e no inferno, o estresse é super e a calmaria também. A vida é sem sentido, amigo, sem nenhum ponto explicado, é tudo coincidência, a mensagem visualizada em minutos, a falta de resposta, o atraso e o ônibus acidentado, o avião que cai, o sonho que voa e nunca mais volta, é tudo acaso.
O acaso é assim mesmo, pega a gente de surpresa, muda os ventos de direção, deixa a gente perdido. Tenta molhar o dedo e identificar a direção dessa ventania e não vai conseguir, o minuano, como diria Érico Veríssimo, é incerto. Tudo é incerto, menos o vazio. A incerteza deveria ser mais apreciada, “será que hoje o sol se põe mais cedo que ontem?”, “e se o rosa durar menos que ontem e o azul escuro prevalecer mais tempo?”, “e se ninguém morrer no dia de hoje como naquele livro do Saramago?”, “e se todo mundo morrer de uma vez só?”, “e se morrer for uma coisa boa?”. O incerto me dá muito medo, sabe amigo.
Poderia passar horas olhando o céu à noite, pra me colocar ainda mais nesse lugar de insignificância, ver cada estrela e reparar que uma brilha mais que a outra, identificar qual é planeta e qual é só poeira cósmica. Poeira cósmica, olha que poético isso, amigo, é tão geração millennial terminar uma conversa filosófica dizendo que não passamos nada além disto, poeira. Ninguém é estrela aqui, ninguém é planeta, ninguém tem gravidade, é tudo pó. E desse pó ninguém cheira, não dá barato, é pó cru, feio e sujo.
É tudo uma imundice, que vem do latim imundus, significa sujo, colocaram o in negativo no mundus que significava limpo, e que por sinal dava sentido de mundo também, ou joia. Mundo e joia no mesmo grupo de significado, olha que sensacional. Será que foi no acaso? Espero que sim, faria muito sentido. Ou não faria, porque não ter sentido das coisas acaba sendo harmonioso com essa sujeira cósmica.